Legado

Comunidade Bethânia mostra que trabalho de Padre Léo segue vivo

Padres de Bethânia falam da continuidade da obra iniciada por padre Léo, que entrará em processo de beatificação

Thiago Coutinho
Da redação

Recanto da Comunidade Bethânia em São João Batista (SC), a Casa Mãe; obra presta acolhimento a pessoas à margem da sociedade / Foto: Wesley Almeida

O dia 7 de março configurará uma data especial para os membros da Comunidade Bethânia: o processo para a beatificação de Padre Léo será aberto. O carisma do religioso, nascido numa pequena cidade do sul de Minas Gerais e muito conhecido por seu trabalho com pessoas marginalizadas e pregações, terá sua vida analisada para uma possível beatificação e até canonização. São esperadas 5 mil pessoas para a missa no Recanto de São João Batista (SC) da Comunidade Bethânia, celebração que será presidida pelo arcebispo de Florianópolis, Dom Wilson Tadeu Jönck.

A Comunidade Bethânia, obra que se tornou expoente do carisma de Padre Léo e que levou a Palavra de Deus e deu esperança a milhares de dependentes químicos, soropositivos, adolescentes e jovens que estavam à margem da sociedade, está em festa. 

“Assumimos aquilo que é legado deixado por ele, que o Espírito Santo citou em seu coração e desejou que vivêssemos como Bethânia, ou seja, acolher todos aqueles que vêm até nós como o próprio Cristo fez”, afirma padre Elinton Costa, coordenador de comunicação da Comunidade Bethânia.

Padre Vicente / Foto: Wesley Almeida

Padre Vicente de Paula Neto, moderador-geral da Comunidade, acredita que a estrutura construída por Padre Léo está em consonância com os ensinamentos do Papa Francisco. “A possibilidade de beatificação do Padre Léo vem evidenciar um carisma. Mas não podemos deixar nossa essência em meio ao turismo religioso. Se santo, ele será um santo moderno da comunicação, muito afinado com o magistério do Papa Francisco”, diz.

A estrutura deixada pelo postulante a beato pode ser percebida em toda sua plenitude nas instalações da Comunidade Bethânia. São quatro recantos no Paraná, um no Rio de Janeiro, outro no interior de São Paulo, um em Santa Catarina e, por fim, em Minas Gerais. Todos estão preparados para acolher pessoas que estejam passando por problemas com dependência química. “Mas o maior tesouro de Bethânia são os assistidos pelo Padre Léo”, ressalta padre Vicente.

O processo de beatificação de Padre Léo será aberto 13 anos após sua morte. Surgem diversos testemunhos do quão benévolo e relevante seu trabalho foi e continua sendo. “Quando aprendemos a ter as pessoas presentes em nosso coração, ou mesmo espiritualmente, eles se tornam sempre vivos entre nós”, analisa padre Ellinton.

“O maior tesouro de Bethânia são os assistidos pelo Padre Léo”
Padre Vicente de Paula Neto

Questionado acerca das recordações marcantes de Padre Léo, padre Lúcio Tardivo, responsável pela causa de beatificação do Padre Léo no Brasil, fica em dúvidas sobre qual escolher, mas fala de uma em particular. “A última pregação do Padre Léo na Canção Nova, de alguém nas últimas forças, cantando a vitória de Deus, ficou eternizada em muitos corações, e mostrou alguém que se consumiu pela vontade de Deus”, rememora.

Os laços são profundos, inclusive, entre a Comunidade Bethânia e a Comunidade Canção Nova, especialmente entre Padre Léo e o Monsenhor Jonas Abib. Laços que tornaram a lembrança de Padre Léo inesquecível para muitos fiéis que até hoje ouvem e se atentam às suas pregações. Um monumento foi erguido em memória do  sacerdote em Cachoeira Paulista (SP), cidade onde fica a sede da Canção Nova.

“Somos muito gratos por esta amizade”, assegura padre Elinton. “Uma verdadeira fraternidade, como Jesus anunciava e desejava. E nossos corações se alegram em saber que as pessoas olham para o Padre Léo e veem neste monumento um testemunho de quem procurou viver inteiramente para Deus, um verdadeiro consagrado para o Senhor”, exalta o religioso.

Complacente, mas firme

Padre Léo se preocupava muito com aqueles que viviam à margem da sociedade. Era, porém, firme em suas pregações e nos momentos em que se dirigia às pessoas a quem prestava auxílio. “Diácono Nelsinho Côrrea dizia que ele batia e assoprava e às vezes assoprava para poder bater”, recorda padre Vicente.

Padre Lúcio Tardivo lembra do carinho com que ele tratava aqueles que acolhia. “Conheci o Padre Léo no colégio São Luiz, e lembro das inúmeras vezes que ele acolhia um filho lá no colégio, mas eles tomavam um banho, o Léo conversava com eles, e as vezes até passavam à noite lá”, relembra.

Padre Lúcio recorda Padre Léo: seu carinho e acolhimento com os filhos de Bethânia / Foto: Wesley Almeida

A continuidade da obra de Deus

Após a precoce morte de Padre Léo, muitas conjecturas acerca do futuro da Comunidade Bethânia surgiram. Como seria a continuidade da obra após a partida de seu fundador? A partida de Padre Léo foi uma motivação para que seu trabalho perpetuasse e chegasse mais longe.

“Muitos acharam que com a morte do Léo, Bethânia fosse fechar. Mas hoje a Comunidade está prestes a completar 25 anos, é a prova que é uma obra de Deus com mais casas, e cada vez mais com mais convites para abrir outros recantos”, assegura padre Lúcio.

Como dizem os próprios consagrados e voluntários que seguem levando a obra iniciada por Padre Léo adiante, ele é uma presença eterna e não se vive sem ele. 

Comunidade Bethânia preserva com carinho as recordações de Padre Léo / Foto: Wesley Almeida